Se você já entrou em uma joalheria daquelas bem elegantonas, com atendente de luvas brancas e produtos lindamente expostos sob vetrines de vidro imaculadas, sabe que lugares do gênero podem ser um pouco intimidadores.
Pense então entrar em uma joalheria de chocolates. A experiência vira multisensorial: os produtos são tão bonitos que dá até dó de comer, os clientes – uma mão segurando o outro pulso atrás do quadril, como quem não quer se atrever a tocar em nada – caminham de um lado ao outro, fingindo não estar hipnotizados pela beleza, inebriados pelo aroma.
Até que o acanho inicial é quebrado inexoravelmente pela metade de uma enorme barra de chocolate, com uma calda açucarada que desafia os bons modos e se derrama toda sobre outra barra, ainda maior.
A quase displicência dessa barra meio melada faz um cliente tomar coragem: “É agora ou nunca”, pensa. “Com licença, senhora, desculpe incomodar, mas o que tem nessa barra aqui?”
“Fatias de laranjas carameladas. E essa outra aqui do lado é com avelãs inteiras. A outra é chocolate amargo com lascas de amêndoas”
E pronto, eis que a timidez dá espaço ao desejo. E tudo ali dentro – os bombons, as diversas interpretações da gianduia, as drágeas… – parece a um só tempo mais acessível e apetitoso.