Textos

10/09/2021
14:51
Bologna, Italia
10/09/2021
14:51

Umbigo de Vênus

Tortellini ombelico venere

Se algum dia no futuro eu tivesse que inventar uma historinha sobre Bologna para contar a meus netos, sei bem quem seria o rei e a rainha. Esta, sem dúvida, seria uma linda mulher vestida de rosa, chamada mortadella. O rei, por sua vez, seria forte, robusto, e se chamaria tortellino.

Como ainda não inventei todo o roteiro, e a vinda dos netos parece muito distante, aproveito a oportunidade para contar a história do outro tortellino: não um rei, mas um dos maiores símbolos de Bologna.

A origem dos tortellini não é completamente clara. Existem, por exemplo, controvérsias sobre o fato de seu berço ser Modena ou Bologna. Quanto à data de nascimento, não se sabe ao certo, mas alguns dizem que o primeiro registro de algo parecido (um prato de “tortellorum”, servido no Natal) remonta ao século XII.

Deixando notas históricas de lado, um dos documentos mais interessantes sobre os tortellini é um poema, datado do final do século XIX. Nele, o poeta Giuseppe Ceri (1839-1925), inspirando-se em uma ópera do modenese Alessandro Tassoni chamada a “Secchia rapita” (na qual em uma guerra entre Modena e Bologna personagens históricos da região e deuses do Olimpo travam duras batalhas), conta sobre uma passagem pela Emilia Romagna de três divindades do Olimpo: Baco, Marte e Vênus.

Os três, vindos para ajudar Modena em mais uma guerra contra Bologna, param para dormir em uma pousada de uma cidade no meio de caminho entre ambas, Castelfranco Emilia. Durante a noite, o dono do lugar consegue dar uma espiadela furtiva em Vênus nua e se apaixona. Com a imagem do seu umbigo registrada em sua mente, tenta reproduzi-lo com a massa de pasta que estava preparando na cozinha. Assim, ele cria os tortellini.

Até hoje, em Bologna, o tortellino é conhecido como umbigo de Vênus. E, lendas à parte, é indiscutível que, além de um dos protagonistas da história da cidade, trata-se de um verdadeiro manjar dos deuses.